Beatificado no passado dia 13 de outubro de 2013 em
Tarragona (Espanha), Frei Manuel da Sagrada Família foi um homem providencial.
Cristão de fé adulta, foi em 1925 o restaurador do ramo masculino da Ordem dos Jerónimos,
comunidade religiosa contemplativa. Uma ordem monástica com uma enorme tradição
eclesial em Espanha e Portugal. (Quem não conhece o belíssimo “mosteiro dos
Jerónimos” em Lisboa? – antiga casa-mãe da Ordem dos Jerónimos em Portugal).
Manuel Sanz Domínguez nasceu em Sotodosos (Guadalajara) em
1887. Seu primeiro emprego foi na Companhia de Caminhos de Ferro Espanhola.
Dali, passou à Banca, e começou a trabalhar na London
Country Westmister and Parr’s Foreign Bank na famosa Gran Vía em Madrid. Sua notoriedade na banca rapidamente se fez
notar e depressa foi contratado pelo mais influente Banco Rural.
Testemunhos de conhecidos e amigos recordam esses tempos de
empregado dos Caminhos de Ferro, quando ainda não tinha feito os 25 anos, onde
falava da Boa Nova de Jesus Cristo aos colegas. Socialistas, anarquistas e
comunistas procuravam escarnecer dele. Tarefa inútil, pois Manuel Sanz nunca se
deixou abater perante as críticas, as incompreensões, os insultos. A Adoração
Noturna, os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola, os vários retiros
espirituais, e a sua própria acção evangelizadora acabaram por o levar a sentir o apelo do
Senhor. Pensou tornar-se jesuíta, mas a
saúde do seu pai, e o facto de que suas irmãs dependiam economicamente dele, obrigaram
Manuel a atrasar sua decisão. No entanto, nunca se tornaria jesuíta. O Senhor
tinha para ele, um outro plano.
Em 1920, cumpria-se o décimo quinto centenário da morte de
São Jerónimo. Com excepção dos nossos dias, este tipo de datas sempre foram celebradas
com solenidade e publicidade. E no início dos anos 20, entre os católicos de
Espanha surgiram uma série de publicações sobre o santo. Coincidindo com este
acontecimento, Manuel Sanz entrou em contacto com os escritos de São jerónimo
através de um companheiro da Adoração Nocturna que tinha tentado, sem êxito,
restaurar a Ordem Jerónima.
Durante o tempo de doença do seu pai, Manuel introduziu-se
na espiritualidade jerónima, e na gloriosa história da Ordem, condenada à morte
prematura pelas legislações anti-clericais do século XIX em Portugal e Espanha.
No entanto, seu pai veio a falecer e suas irmãs, encontraram a independência
económica. Manuel estava agora com as condições para dar resposta ao projecto
que o Senhor lhe propunha: não seria sacerdote jesuíta, mas sim monge jerónimo.
- “Mas a Ordem Jerónima não existe!”, lhe dizia seu director
espiritual quando Manuel lhe confiou os seus planos.
- “Pois bem, a restaurarei!”
~E restaurou-a mesmo. Com outros cinco corajosos vocacionados,
e contando com o apoio incondicional das monjas, que do Mosteiro Jerónimo de la
Concepción de Madrid, que levavam décadas a pedir ao Senhor o regresso dos seus irmãos frades. Renunciou a uma
brilhante carreira profissional, a um futuro de bem instalado na vida, ao êxito
financeiro, e, se empenhou numa tarefa aparentemente insensata: recuperar uma
ordem monástica no seu ramo masculino, que já tinha existido na Península
Ibérica, mas que fora extinta pela força das leis anti-Igreja, em 1834 em
Portugal, e em 1835 em Espanha.
Mosteiro dos Monges Jerónimos de Santa Maria del Parral
Com o apoio do Papa Pio XI, os novos monges Jerónimos
começaram a sua vida monástica regular
num dos seus antigos mosteiros da Ordem, Santa Maria del Parral, em 1925. Neste
mosteiro, recebeu a ordenação sacerdotal, e fez profissão dos seus votos,
temporais primeiro, depois perpétuos.
O MARTÍRIO
A Ordem Jerónima recuperou a sua vitalidade, mas o seu
destino parecia estar cheio de provas extremamente duras. Em 1931, com a
proclamação da República, o Governo e os partidos foram criando uma corrente
crescente de opinião pública contra a Igreja e seus membros, que se converteria
na grande enxurrada de sangue de mártires ocorrida em 1936. Sabendo que era perseguido
pelas forças do novo regime republicano, Fray Manuel de la Sagrada Família,
proclamou:
“Aconteça o que acontecer, dou graças a Deus, porque me
concedeu um destino grande e belo. Se viverei, creio que verei restaurada a
Ordem Jerónima, objecto de todos os meus sonhos. Se morrer, serei mártir por
Cristo, que é bem mais do que alguma vez sonhei!”.
Poucos dias depois de ter pronunciado estas palavras,
membros dos partidos políticos de esquerdas, com o aval do Governo da
República, detiveram Frei Manuel de la Sagrada Família. Detiveram-no durante 2
anos preso, doente. Acabou por ser transferido para a Prisão-Modelo de Madrid,
(Cárcel Modelo), acompanhado por outros religiosos, sacerdotes e leigos
católicos.
Antiga prisão madrilena "Cárcel-Modelo" onde Frey Manuel esteve preso
Foi executado pelos comunistas por fuzilamento em
Paracuellos de Jarama, a 6 de novembro de 1936.
Cemitério dos Mártires em Paracuellos de Jarama, esse verdadeiro relicário de mártires da Santa Igreja Católica. Aqui a terra está inundada de sangue de mártires cristãos.
Paracuellos de Jarama, esse local onde jazem o maior número
de mártires cristãos da História da Igreja, foi a tumba do restaurador da Ordem
dos Jerónimos, que passou os últimos dias na Prisão-Modelo a evangelizar, e
reconfortar e a atender espiritualmente os presos, vítimas do ateísmo e ódio à
religião católica.
Cemitério dos Mártires em Paracuellos de Jarama, esse verdadeiro relicário de mártires da Santa Igreja Católica. Aqui a terra está inundada de sangue de mártires cristãos. Local onde todos os cristãos deveriam ir em peregrinação uma vez na vida!
Simulação dos fuzilamentos efetuados pelos comunistas em 1936 em Paracuellos de Jarama.
Lembranças do Beato Frei Manuel de la Sagrada Família no mosteiro de Santa Maria del Parral.
Infelizmente, apesar de a Igreja ter celebrado muito recentemente a sua Beatificação,
o momento não é muito feliz para a Ordem dos monges Jerónimos. Após a
restauração em 1925 no Mosteiro de Santa Maria del Parral (Segóvia – Espanha) a
Ordem já teve as seguintes comunidades monásticas masculinas: Mosteiro de San
Isidro del Campo (1956); Mosteiro de Yuste (1958) e Mosteiro da Jávea (1964). No
entanto, hoje (outubro de 2013) a Ordem Jerónima, no seu ramo masculino está
reduzida apenas à um único mosteiro activo: Santa Maria del Parral.
Mosteiro de Yuste (Cáceres): até à poucos anos ocupado pelos monges Jerónimos.
Que tempos
são estes? Onde os jovens católicos já não respondem generosamente ao apelo do
Senhor, unindo-se a este ideal de vida cristã, no silêncio e oração? Os poucos monges jerónimos são homens
humildes, afáveis, serenos, com um
grande coração e uma profunda Fé em Deus. É surpreendente que a sua vida de recolhimento,
de silêncio, não os transforma em pessoas antipáticas ou pouco sociáveis. Pelo
contrário, servir a Deus, com todo o seu coração, com toda a sua mente, e todo
o seu corpo, multiplica o seu grande amor por todas as almas. São verdadeiramente cristãos muito felizes!
Dois monges Jerónimos na actualidade, de Santa Maria del Parral.
Roguemos ao Beato Frei Manuel de la Sagrada Família, que
interceda junto de Nosso Senhor Jesus Cristo, para que envie jovens cristãos
do século XXI, à secular Ordem dos Jerónimos de forma a que esta continue a
contribuir com a sua incessante oração, para o bem de toda a Santa Igreja.