Caros amigos, é de todo
impossível descrever a emoção sentida na tarde do passado dia 13 de setembro,
ao ver ainda ao longe a silhueta do célebre monumento ao Sagrado Coração de
Jesus do Cerro de Nuestra Señora de los Angeles, em Getafe, nos arredores de
Madrid.
Entrar naquele recinto sagrado,
centro geográfico da Península Ibérica, coração religioso de Espanha, símbolo
de sua fé enquanto grande nação cristã, foi um momento de grande emoção, que me
prostou, rendido ao amor misericordioso desse Sagrado Coração de Jesus que ama
incondicionalmente todos os que O procuram. Como peregrino, senti-me acolhido,
e envolvido pelo amor de um Pai que acolhe de braços abertos o filho pródigo.
Entrar na igreja situada na
cripta da novo monumento inaugurado em 1965, ajoelhar-me perante Jesus Cristo
presente na Hóstia consagrada, na pequena capela do Santíssimo, foi para mim,
um momento belo, sublime e inesquecível. Ali, junto ao Seu Sagrado Coração
sofredor com o peso dos pecados dos homens, e especialmente os meus, pude
sentir o Seu calor de acolhimento, Sua imensa compaixão pelos pecadores que a
Ele recorrem, e secretamente, deixei rolar as lágrimas pela face, admirado com
tanta misericórdia e amor.
Já
aqui neste blog “Mártires de Espanha” falei do sucedido em 1936 neste local,
num post com o título “Quando os ateus fuzilaram Jesus Cristo”. O caso é
sobejamente conhecido. É aliás, como o já tinha dito, uma das mais infames imagens
fotográficas do decorrer da Guerra Civil Espanhola: a 28 de julho de 1936, um
grupo de milicianos marxistas, alinhados em pelotão de fuzilamento, dispara
contra a imagem do Sagrado Coração de Jesus a mando de uma mulher miliciana.
Uma forte imagem do poder do ódio contra Jesus Cristo e Sua Igreja. Uma imagem,
que apesar de a sabermos situá-la no passado (já distante), não estará assim
tão distante dos tempos atuais.
Como curiosidade, refira-se que
ainda hoje se podem observar mais de vinte impactos de bala na pedra que
circunda o coração de Jesus, fazendo assim uma versão mais contemporânea da
circunferência da coroa de espinhos, mas NENHUMA bala tocou propriamente o
coração, apesar de todo aquele ódio que os fazia mover. Hoje, esta relíquia do
antigo monumento são guardadas no convento das irmãs carmelitas, ali ao lado. Dias depois do fuzilamento, sucederam-se as
tentativas de o destruir. Picaretas, camartelos, tudo serviu para tentar
derrubar o monumento. Desfiguraram furiosamente as imagens, mutilando-as, mas sem conseguir derrubar o pedestal. Na noite
de 6 para 7 de agosto de 1936, os comunistas fizeram chegar vários camiões
carregados de “dinamiteros” experientes, que perfurando em vários locais o
monumento, e enchendo-o com dinamite, o fizeram cair no meio de uma grande
explosão de nuvem de pó, entre sonoros gritos de blasfémias. Os comunistas
chegaram mesmo a mudar o nome da colina de Cerro de Nuestra Señora de los
Angeles” par um mais revolucionário “Cerro Rojo”, (colina Vermelha), para o
qual se chegou a pensar erigir um grande monumento a Lenín. Pensavam então
poder substituir em Espanha, o cristianismo pelo comunismo.
O monte de ruínas que foi o
monumento ao Sagrado Coração de Jesus, inaugurado pelo Rei de Espanha D. Alfonso
XIII em 1919, ali ficou, como testemunho mudo do ódio satânico de quem,
procurava extinguir a Igreja Católica do solo espanhol: padres, monjes, frades,
seminaristas, e religiosas eram assassinados sem piedade, muitos deles com uma
crueldade sem limites à imaginação mais infame;
igrejas, capelas, seminários eram incendiados, milhares e milhares de
leigos cristãos foram perseguidos e assassinados somente pela sua condição de cristãos pelas
forças da República. Até os cemitérios eram profanados, retirando-se das
sepulturas todo vestígio cristão. A barbárie reinava em campo aberto e saía à
rua deixando um rasto enorme de sangue de mártires. Em 1936, na Espanha
controlada pelos Republicanos, era-se fuzilado, por se trazer um cruxifixo, num
fio, ao pescoço!
Não resisto, aqui neste meu blog
a deixar-vos com algumas depoimentos da época (numa tradução para o português
da minha autoria) acerca do vandalismo cometido pelas forças do ateísmo
organizado.:
Aniceto Castro Albarrán,
magistrado em Salamanca, e um leigo católico empenhado:
«Chegou a hora do poder das
trevas. Os telefones estremecem com a terrível notícia: “Neste momento acabou
de cair, destruído, o Sagrado Coração de Jesus entre blasfémias e maldições de
toda a ordem”. Foi lógico e natural o que fizeram. Eram seus inimigos, e como
inimigo O consideravam. O tinham prisioneiro… e O fuzilaram! Eram inimigos da
Espanha. O Coração de Jesus estava tão entranhado com o próprio coração da
Espanha que podiam, com os mesmos disparos, com a mesma dinamite, ferir e
destruir o Coração de Cristo e o coração de Espanha!... Cerro de los Angeles,
Calvário espanhol desta nova redenção da guerra! As balas deste fuzilamento e a
dinamite desta explosão fez grandes feridas, e grande rasgão neste Coração
Divino…»
O Cardeal-Arcebispo de Toledo, D.
Isidro Gomá i Tomás, escreveu numa pastoral:
«Esta guerra por parte dos
inimigos de Nosso Senhor, tem sido uma vastíssima acção de sacrilégios
perpetrados a sangue-frio que culminaram com este sacrilégio resumido, que se
não foi o maior na sua aberração teológica, foi o mais diabólico e clamoroso: o
fuzilamento do Sagrado Coração de Jesus no Cerro de los Angeles. A doce imagem
de Jesus abençoando a Espanha! Levantado no seu centro geográfico, culminando,
imponente sobre as figuras mais representativas do amor divino em forma humana,
caíu, recheado de balas, do seu pedestal , pedestal esse que tem no seu coração
cada um bom espanhol. »
Dr. Esteban Bilba, então ministro
da Justiça da Espanha nacionalista:
«A imagem do Senhor caiu, mas
caiu com os braços abertos, e ao cair sobre a terra espanhola a beijou num
abraço doloroso. E agora, Cristo é mais do que nunca de Espanha, e Espanha é
mais do que nunca de Cristo!».
A imprensa republicana de Madrid,
proclamava em letras garrafais: “Um estorvo que desaparece”. «Esta madrugada
foi demolido o monumento ao Coração de Jesus que tinham para suas expansões
fascistas os grandes capitalistas, latifundiários e pistoleiros a soldo da
reação. O Cerro de los Angeles agora encontra-se limpo de um estorvo.».
Como sinal de comoção causado por
aquele atentado terrorista selvagem que causou em toda a Espanha e no mundo
católico, merece-se recordar o grande poeta católico José María Pemán no seu
poema DE LA BESTIA Y EL ANGEL:
«… Crujía la impaciência jadeante
de España contra el viento, a la
manera
como en la nave y llora la
madera,
cuando el dorado látigo tonante
del rayo, derribo com saña fiera
el mastil donde, al sol, iba el
Divino
Piloto, señalando el camiño.
Los pájaros que cruzan com
presteza
- flechas de luz de la celeste
aljaba –
no se pueden posar ya en la
cabeza
del dulce Cristo blanco, a quien
rezaba
una nación en cruz, que ya no
reza.
queda, por todo altar, donde se
alzaba
triunfante, ayer, el Rey de los
amores,
un Corazón partido entre unas
flores…
Y viendo tal destrozo, revestido
De luz, y de rocío la alta frente
Coronada, vau n ángel com quejido
De árbol sin flor, cantando
amargamente:
“Señor, Señor, los hombres han
partido
Tu Corazón…” Y El, dulce y
blandamente,
Le responde en la lauz de esta
manera:
“Es por acaso esta vez la vez
primera?”
Y mirando entre nubes la porfia
Que a España enluta de ódios y
rencores,
Y mostrando su mano de alegría
De un soldado navarro que, entre
flores,
Com la Salve en los lábios se
moría,
Mira al ángel y añade, com
fulgores
De victoria su rostro iluminado:
“Si, ahora empieza de veras mi
reinado!»
Como já o referi neste blog, os
comunistas não se contentaram em somente fuzilar e derrubar a imagem do Sagrado
Coração de Jesus. Assassinaram de forma bárbara 5 bravos jovens católicos,
pertencentes a movimentos da Ação Católica. Tinham-se disponibilizado, na
qualidade de católicos praticantes de sua Fé, em assegurar a segurança do
monumento. Foram impiedosamente fuzilados pelos milicianos comunistas, a 23 de
julho de 1936. Morreram, mártires pela Fé em Jesus Cristo, de braços em cruz,
de frente para a imagem do Sagrado Coração de Jesus. Seus corpos, ali ficaram
abandonados, mergulhados no seu próprio sangue no chão, durante alguns dias. Os
nomes destes meus irmãos na Fé, dignos de veneração, são:
- Justo Dorado;
- Blas Ciarreta;
- Fidel Barrio;
- Vicente del Prado;
- Elías Requejo.
Foi com viva emoção, que na tarde
do passado dia 13 de setembro, pude passar a minha mão direita em cada uma das
cinco campas, na cripta do novo monumento, onde os restos destes inocentes
mártires se encontram depositados. Um dia serão beatificados, a exemplo já de
tantos outros mártires cristãos seus contemporâneos.
Aspecto do monumento original derrubado pelas forças do ateísmo organizado
Imagens originais do monumento mutiladas pelo ódio anti-católico
Cabeça de Cristo original do Sagrado Coração de Jesus deformada pelas picaretas dos comunistas
Saindo da cripta, atrevi-me a
subir ao monumento, aos pés do Sagrado Coração de Jesus. Naquele fim de tarde,
banhado pelo sol quente, ali em contemplação e em silêncio, senti uma paz e uma
calma arrebatadoras. “Meu Deus, eu creio, adoro-Vos, espero e amo-Vos, peço-Vos
perdão por todos aqueles que não creem, adoram, não esperam e não Vos amam”,
disse o meu coração àquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Que graça tão
grande, estar ali, junto Dele, em peregrinação, a seus pés! “Obrigado Senhor!”,
agradeci.
video da libertação do Cerro de los Angeles: