Cumpriram-se neste ano de 2011, 75 anos sobre o martírio dos 15 Irmãos (entre sacerdotes, Irmãos e noviços) do Sanatório de Calafell, Tarragona, da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus. (De referir que na Ordem Hospitaleira São João de Deus em Espanha, durante a Perseguição Religiosa de 1936-39, receberam a palma do martírio um total de 97 Irmãos, bem como um assinalável número de doentes internados nos seus hospitais!).
O Sanatório de Calafell (Tarragona), construido pela Ordem, acolhia cerca de 70 doentes de forma permanante, na sua maioria crianças e acamadas, devido a raquitismo e escrofulose (tipo de tuberculose infantil), onde os Irmãos exerciam o seu ministério de forma totalmente altruísta.
Por volta das 14h30 do dia 24 de julho de 1936, o Hospital foi invadido por um grupo de milicianos marxistas armados, que se apressaram, uns a prender os Irmãos, outros a revistar o Hospital à procura de armas, coisa que não encontraram, porque não existia. O Superior - Pe. Julián Carrasquer - ainda lhes ofereceu uma merenda, e pelo entardecer, os milicianos acabram por se irem embora, prometendo regressar no dia seguinte com pessoal laico para substituirem os Irmãos-enfermeiros, dizendo: "tirem os hábitos religiosos! Nada de hábitos! Somos todos iguais!".
Pouco se dormiu naquela noite. Pelas 04h00 da manhã, celeraram-se as Eucaristias. Por volta das 18h00 os milicianos regressaram, e exigiram ao Padre Superior da comunidade a chave do Hospital para se apoderarem dele. Aos Irmãos, foi-lhes permitido que continuassem a trabalhar, enquanto não chegassem as equipas de enfermeiras laicas que os deviam substituir no cuidado aos doentes, a sua maioria crianças. A partir dali, tudo foi intanquilidade, temores, sobressaltos e desconfiança permanente. No dia seguinte, 26 de julho, domingo, ao levantar as crianças doentes de suas camas, e rezarem, os milicianos lhes proibiram violentamente, fazendo escárnio e troça da religião. E em troca das orações, os milicianos prometeram um camião cheio de brinquedos, e asseguraram que a capela do hospital seria transformada em cinema, e que a partir dali, seriam acordados aos gritos de "Não há Deus!" e "Viva o Comunismo!".
No dia seguinte, chegaram ao Sanatório algumas mulheres (o tal pessoal laico que deveria tratar dos doentes em substituição dos religiosos) que se dedicaram a comer e a beber, até algumas ficarem bastante embriagadas, ao que diziam aos gritos: "Estes frades são nossos criados; já era a hora disto mudar!".
No dia 28, os milicianos e as mulheres que tinham chegado no dia anterior, dedicaram-se raivosamente a eliminar todos os vestígios ou sinais religiosos do sanatório. Imagens, pinturas, crucifixos, tudo desapareceu. No dia 30, o chefe dos milicianos reuniu a comunidade religiosa para lhes dizer que o pessoal de substituição tinha chegado, e que a partir daquele momento teriam de sair dali. Decidiram dirigirem-se a Barcelona e daí a Marsella, onde se instalaria o noviciado da província de Aragão.
Dezanove (entre professos, noviços e postulantes) empreenderam o seu caminho. Seus passos foram seguidos pelos milicianos. Ao chegarem às estações, foram imediatamente detidos e conduzidos à povoação de El Vendrell, onde se encontrava uma multidão na praça principal, profanando a igreja paroquial. Ao verem os religiosos, quiseram apoderarem-se deles, mas os milicianos, fizeram subi-los para um camião que tomou a direcção de Barcelona. à saída de Calafell, foram interceptados por outro grupo de milicianos, que os obrigaram a descer do camião, e a pôr-se em fila. Quatro dos Irmãos foram separados do grupo por serem muito jovens (eram postulantes). Os 15 restantes receberam os impactos das balas e metralhadoras, caindo ao grito de "Viva Cristo Rei!" perdoando ao mesmo tempo os assassinos.
Segundo contou, mais tarde um dos milicianos presentes, o Padre Superior, ao ser fuzidado exclamou: "Meu Deus, perdoa-os pois não sabem o que fazem". Os tiros abriram-lhe a cabeça, com perca de massa encefálica.
Ao entardecer desse dia, pessoas piedosas recolheram os cadáveres, carregaram-nos num camião e depositaram-os no cemitério de Calafell numa fossa comum. a 23 de julho de 1940, os restos dos mártires foram transladados para o sanatório de Calafell e depositados na cripta da capela. Em Janeiro de 1942, foi erigida uma cruz no local do martírio. A 25 de setembro de 1972, os restos dos Irmãos mártires receberam sepultura definitiva na igreja do Sanatório de Sant Boi de Llobregat.
Quinze foram os martirizados. Que o seu exemplo de imolação perante o Mal, seja para nós sinal de perdão e amor ao próximo! Estes são os seus nomes:
1. Julián Carrasquer; sacerdote e superior da comunidade; 55 anos de idade e 19 de vida religiosa.
2. Braulio Maria Corres y Diaz de Cerio; sacerdote e Mestre de Noviços; 39 anos e 25 de vida religiosa.
3. Feliciano Martínez; Irmão, 73 anos de idade e 39 de vida religiosa.
4. Eusebio Forcades; Irmão, 60 anos de idade e 37 de vida religiosa.
5. Constancio Roca; Irmão; 41 anos de idade 26 de vida religiosa.
6. Benito Jose Labre Mañoso; Irmão, de 57 anos de idade e 22 de vida religiosa.
7. Vicente de Paul Caselles; Irmão, 42 anos de idade e 10 de vida religiosa.
8. Juan José Orayen; 39 anos de idade e 10 de vida religiosa.
9. José Miguel Penarroya; 28 anos de idade e 3 de vida religiosa.
10. Publio Fernandez; 28 anos de idade e 3 de vida religiosa.
11. Avelino Martinez de Arenzana; 38 anos de idade e 2 de vida religiosa.
12. Manuel Jimenez; 29 anos de idade, noviço.
13. Antonio Sanchíz; de 26 anos, noviço.
14. Manuel Lopéz; de 23 anos, noviço.
15. Ignacio Tejero; de 20 anos de idade, noviço.
A solene Beatificação destes mártires,. teve lugar a 25 de outubro de 1992, na Praça de S. Pedro no Vaticano, cerimónia presidida pelo também Beato João Paulo II, acompanhado por mais de 50 concelebrantes, entre cardeais, arcebispos e bispos, bem como por uma numerosa multidão de fiéis.
A 30 de outubro de 2001, Calafell dedicou a capela do cemitério municipal a estes mártires da Ordem Hospitaleira.
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